terça-feira, janeiro 27, 2009

O Caso dos Gêmeos

Segunda-feira, 5 de março de 2007. Início do ano letivo. Laura estava ansiosa. Não sabia ao certo o porquê. Apenas uma sensação de Ano Novo. Mas naquele ano um fato a deixava mais inquieta. Haviam lhe dito que ela teria colegas gêmeos. Ela nunca vira 2 pessoas gêmeas ao vivo, ainda, que previamente, tivesse procurado saber o que eram pessoas gêmeas. Na noite anterior, ela procurou que sua avó. Certamente a avó era a pessoa mais indicada para ajudá-la, já que sua avó era a pessoa mais velha que conhecia. Se Dona Cândida nunca tivesse visto duas pessoas gêmeas quem mais poderia? A avó estava na sala a ver TV. Laura chegou de mansinho e sentou ao seu lado.

- Que houve minha filha? Queres alguma coisa da vó?

- Quero sim. Quero saber se já viste duas pessoas gêmeas.

- A minha filha. A vó já viu tanta coisa nessa vida...mas tanta que nem podes imaginar. A vó já viu duas pessoas gêmeas sim. Mas isso faz muito tempo. Vi quando era menina. Assim como és agora.

- É vó? - disse Laura com os olhos curiosos - E como eram?

- Ah minha filha. Os gêmeos eram muito iguaizinhos. Tão iguaizinhos que chegavam a confundir as vistas do povo.

Naquele momento, ali na sala de aula, a conversa que tivera com a avó no dia anterior martelava na cabeça de Laura. Como seria possível duas pessoas serem iguais? Aquilo, em realidade não fazia para ela muito sentido, afinal, ainda outro dia, seu pai havia lhe dito que ela era sua filha amada e que não existia ninguém igual a ela. Quem estaria certo? O pai? A avó? Provavelmente a avó, porque essa havia vivido mais. De qualquer forma, ela queria ter certeza com seus próprios olhos. De repente, entram os gêmeos na sala de aula. A avó estava certa. Aqueles dois meninos eram idênticos. Como era possível existirem duas pessoas iguais!

Chegou então a hora do recreio, e Laura decidiu que devia olhar aqueles meninos mais de perto. Ambos estavam sentados na escada e lá foi Laura para certificar-se. Ao se aproximar, qual não fora a sua surpresa. Bernardo e Pedro não eram tão iguais assim. Bernardo tinha olhos azuis. Pedro, verdes. Bernardo era mais falante. Pedro, mais calado. Laura, então, começou a pensar que seu pai é quem estava certo. Será?

No final da manhã, Laura voltou para casa e decidiu que aquela dúvida tinha que acabar. Como de costume, resolveu passear pelo quintal de casa que, segundo ela, era não apenas um lugar muito bonito, mas excelente para se ter boas idéias.

Ficou durante alguns instantes sentadinha perto da porta, à espera da idéia luminar que sanaria suas dúvidas. A idéia, porém, não vinha. Laura avistou uma abelha que sobrevoou perto dela e pensou, que porventura, a abelha a levaria onde sua resposta pode estar. A menina saiu correndo atrás da abelha e essa a conduziu a um dos canteiros de flores. Laura se decepcionou. Essa abelha não sabia de nada. Sabia menos que ela. As flores eram todas iguais. Com certeza a abelha não vira na sua vida duas pessoas gêmeas. Que tinham aquelas flores a ver com os gêmeos? Laura já estava desolada quando se deu conta de sua descoberta. As flores, mesmo que sendo todas do mesmo tipo, eram diferentes! As rosas não eram todas iguais. Nem mesmo as orquídeas ou as margaridas. Laura, nesse segundo, deu um gritinho de alegria. Nem seu pai ou sua avó a haviam enganado. Provavelmente sua avó, quando vira os tais gêmeos, tenha os visto apenas de longe. E seu pai, no entanto, dissera aquilo a ela porque ela estava bem pertinho, sentada no seu colo.
É, realmente por vezes a gente pode se enganar, pensou Laura, mas basta um único piscar de olhos para tudo mudar. Até porque, na maior parte das vezes, aquilo que vemos, depende da distância e da forma como nossos olhos nos permitem e querem ver.

Nenhum comentário: