quarta-feira, janeiro 28, 2009

Do Aparente Descontrole.

você veio me visitar e nem marcou hora. chegou de pronto. me arrombou. de mim roubou um pouco. tenho do que sinto. daquilo que posso querer fazer. esse rompante que começa a criar corpo. se agiganta. ganha força. essa falta de controle me assusta. essa imensidão e intensidade de sensações me alucinam. dia e noite. nos meus sonhos. no primeiro pensamento que tenho no dia. no último pensamento antes de adormecer. tormento? talvez. na verdade acho que não. quem sabe seja meu jeito meio torto. quem sabe seja meu modo meio bobo. não sei. só sei que quero me perder. a partir de agora.

terça-feira, janeiro 27, 2009

O Caso dos Gêmeos

Segunda-feira, 5 de março de 2007. Início do ano letivo. Laura estava ansiosa. Não sabia ao certo o porquê. Apenas uma sensação de Ano Novo. Mas naquele ano um fato a deixava mais inquieta. Haviam lhe dito que ela teria colegas gêmeos. Ela nunca vira 2 pessoas gêmeas ao vivo, ainda, que previamente, tivesse procurado saber o que eram pessoas gêmeas. Na noite anterior, ela procurou que sua avó. Certamente a avó era a pessoa mais indicada para ajudá-la, já que sua avó era a pessoa mais velha que conhecia. Se Dona Cândida nunca tivesse visto duas pessoas gêmeas quem mais poderia? A avó estava na sala a ver TV. Laura chegou de mansinho e sentou ao seu lado.

- Que houve minha filha? Queres alguma coisa da vó?

- Quero sim. Quero saber se já viste duas pessoas gêmeas.

- A minha filha. A vó já viu tanta coisa nessa vida...mas tanta que nem podes imaginar. A vó já viu duas pessoas gêmeas sim. Mas isso faz muito tempo. Vi quando era menina. Assim como és agora.

- É vó? - disse Laura com os olhos curiosos - E como eram?

- Ah minha filha. Os gêmeos eram muito iguaizinhos. Tão iguaizinhos que chegavam a confundir as vistas do povo.

Naquele momento, ali na sala de aula, a conversa que tivera com a avó no dia anterior martelava na cabeça de Laura. Como seria possível duas pessoas serem iguais? Aquilo, em realidade não fazia para ela muito sentido, afinal, ainda outro dia, seu pai havia lhe dito que ela era sua filha amada e que não existia ninguém igual a ela. Quem estaria certo? O pai? A avó? Provavelmente a avó, porque essa havia vivido mais. De qualquer forma, ela queria ter certeza com seus próprios olhos. De repente, entram os gêmeos na sala de aula. A avó estava certa. Aqueles dois meninos eram idênticos. Como era possível existirem duas pessoas iguais!

Chegou então a hora do recreio, e Laura decidiu que devia olhar aqueles meninos mais de perto. Ambos estavam sentados na escada e lá foi Laura para certificar-se. Ao se aproximar, qual não fora a sua surpresa. Bernardo e Pedro não eram tão iguais assim. Bernardo tinha olhos azuis. Pedro, verdes. Bernardo era mais falante. Pedro, mais calado. Laura, então, começou a pensar que seu pai é quem estava certo. Será?

No final da manhã, Laura voltou para casa e decidiu que aquela dúvida tinha que acabar. Como de costume, resolveu passear pelo quintal de casa que, segundo ela, era não apenas um lugar muito bonito, mas excelente para se ter boas idéias.

Ficou durante alguns instantes sentadinha perto da porta, à espera da idéia luminar que sanaria suas dúvidas. A idéia, porém, não vinha. Laura avistou uma abelha que sobrevoou perto dela e pensou, que porventura, a abelha a levaria onde sua resposta pode estar. A menina saiu correndo atrás da abelha e essa a conduziu a um dos canteiros de flores. Laura se decepcionou. Essa abelha não sabia de nada. Sabia menos que ela. As flores eram todas iguais. Com certeza a abelha não vira na sua vida duas pessoas gêmeas. Que tinham aquelas flores a ver com os gêmeos? Laura já estava desolada quando se deu conta de sua descoberta. As flores, mesmo que sendo todas do mesmo tipo, eram diferentes! As rosas não eram todas iguais. Nem mesmo as orquídeas ou as margaridas. Laura, nesse segundo, deu um gritinho de alegria. Nem seu pai ou sua avó a haviam enganado. Provavelmente sua avó, quando vira os tais gêmeos, tenha os visto apenas de longe. E seu pai, no entanto, dissera aquilo a ela porque ela estava bem pertinho, sentada no seu colo.
É, realmente por vezes a gente pode se enganar, pensou Laura, mas basta um único piscar de olhos para tudo mudar. Até porque, na maior parte das vezes, aquilo que vemos, depende da distância e da forma como nossos olhos nos permitem e querem ver.

domingo, janeiro 25, 2009

Dos Encontros.

lembro daquele dia no café. te quisera. tão ardentemente que não sei como, nem onde, nem por que. quero sentir-te dentro de mim. tua ternura, teu toque, teu sentimento. teu jeito tolo. teu jeito todo. quero teu sangue. teu suor. teu cheiro. teu envolvimento. teu calor. como um anoitecer espera a chuva. senti teu abraço. teu corpo. teu amor. teu desejo. me entendes. me descobres. me devoras. porque és meu início. meu fim. minha falta de sentido. meu sentido sem razão.

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Do Fugidio.

Verte, transborda, transcende. O amor é grande demais. Demasiadamente intenso. Penso. Perco. Corro. Desencontro. Sinto. Sinto muito não ter sentido mais. Mais do que eu era. Mais do que eu fui. De súbito. Abaixam as cortinas e apagam a luz.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

simples, assim

sempre disposta a encarar um tapa mais forte. pois, assim, só assim, tenho como me desnudar, me despir. é da minha maior fragilidade que eu retiro minha maior fortaleza. a escrita.

terça-feira, janeiro 13, 2009

A Segredo da Borboleta

Laura sentia-se estranha naquele dia. Desde o momento em que despertara pela manhã sabia que alguma coisa estava para acontecer. Remexeu e remexeu em seus pensamentos de 10 anos para ver se encontrava alguma razão para tudo aquilo, mas nada. Na verdade, até achou muitas coisas. Lembrou que pela manhã tinha comido bolo de chocolate que, definitivamente, era um dos melhores sabores do mundo. Foi então que se deu conta de um fato. Um fato realmente grande. Tão grande que a professora tinha contado isso para ela na aula de História. O dia em que o Brasil fora descoberto. O descobrimento do país onde ela morava. O lugarzinho onde estava a casa dela nessa imensidão da Terra. Ela não sabia que tamanho tinha a Terra, mas com certeza deveria ser enorme. Mas o que realmente a deixava intrigada era esse tal de Cabral. Que homem era essa que tinha descobreto um país todo? Quem ele era, ela não sabia, mas ela sabia que ele deveria ser importante, porque ele era dessas pessoas que se vê nos livros da escola, nos livros da biblioteca, na internet.

Embalada por essa idéia, Laura saiu a caminhar pelo quintal de casa. Pensava que, se Cabral fora capaz de descobrir um país inteiro do outro lado do mundo, ela, uma meninda de 10 anos, conseguiria descobrir alguma coisa também, nem que fosse no quintal de casa. Olhava com atenção para as plantas, para as pedras, para as flores. Essas lhe pareciam coloridas, bonitas, mas não dignas de descoberta, até porque se estavam no pátio da sua casa, a sua mãe é que as teria descoberto, já que tinha sido sua mãe que as havia plantado. Foi quando, por um segundo, viu uma cena que lhe chamou atenção. À princípio não sabia o que era, então precisou se abaixar e ficar um pouco mais pertinho. Achou estranho. Parecia uma pedra, algo que nunca tinha visto. O estranho era que parecia que aquilo ganhava vida. Continuou a observar. Espantou-se! Aquela suposta pedrinha não era bem uma pedra, era como que uma capinha, uma bolsinha que estava se abrindo. E para a surpresa dela um colorido surgia de dentro. Uma asa? Seria aquilo uma asa? Sim! Era uma asa de borboleta! Laura havia descoberto, com seus próprios olhos, de onde as borboletas vinham. Com certeza essa era uma descoberta importante! Teria Cabral ficado tão emocionado como ela no momento em que descobrira o Brasil? Isso ela não sabia, mas sabia que tinha visto alguma coisa muito importante.

Entrou rápido em casa e foi direto à biblioteca do pai. Ela precisava ter certeza de que ninguém, realmente ninguém, tivera descoberto algo tão maravilhoso. Avistou um livro grande na prateleira. Enciclopédia. Pensou que, se alguém tivesse descoberto alguma coisa sobre borboletas antes, um livro grande como aquele deveria ter alguma coisa. Procurou borboleta. Página 432. Ficou estática. Não poderia acreditar no que via. Ela chegara atrasada. Alguém já havia descoberto o segredo, um segredo que era só dela. Laura fechou o livro triste. Ficou pensando. Quieta. Refletindo. Eis que lhe surge uma idéia nova. Se ela, que vira com seus próprios olhos a borboleta não a descobriu, teria Cabral de fato descoberto o Brasil? Teria sido mesmo ele ou outra pessoa? Isso ela não sabia. Só sabia, que naquela tarde de primavera, ela era a menina mais importante de todas, porque tinha visto uma das coisas mais formidáveis até então já inventadas: o segredo da borboleta.

sexta-feira, janeiro 09, 2009

Dos Ciclos, Enredos e Recomeços.

Da ponta dos meus dedos até o meu último fio de cabelo. Da última gota da saliva até o último gosto de sal da lágrima. Estou cheia. Cheia de você. Você está na minha sala. Na minha cozinha. No meu banheiro. No meu quarto. Marcas tuas ficaram. Naquele livro que você esqueceu. Naquela roupa no fundo da gaveta. Na taça de vinho que ainda está sobre mesa. Lembro de você quando um vizinho pergunta como você está. Lembro de você quando vejo o quadro na parede da sala. Lembro de você quando percebo que posso ouvir música alta sem você se chatear. E sinto saudade. Saudade de dormir abraçada. Saudade de passear de mãos dadas. Saudade de acordar no meio da noite e te ver dormir. Você se foi e um pouco ficou. Um pouco na minha pele. Um pouco no meu sorriso tristonho. Um pouco na minha rotina, agora, já tão vazia. Mas a verdade é que a bailarina ainda dança. E na próxima estação, o trem vai chegar. E na próxima estação, o fruto não vai tardar. Ainda que eu grite. Me descabele. Tire pedaços de mim. Ainda que o gozo volte. Ainda que a banda toque. Ainda que o a comida acabe. Ainda assim eu acreditarei. Acreditarei porque a gente sempre acredita. A gente sempre se entrega. A gente sempre erra. A gente sempre acerta. E um dia, quando menos se espera, nos encantamos com outros olhos. Rimos com outros sorrisos. E terminamos por beijar outras bocas. E daí, bom, daí, a banda segue a tocar e a bailarina segue a dançar. E tudo recomeça.

quinta-feira, janeiro 08, 2009

Das Agonias.

Para onde vocês foram? Estão de férias? Viajaram para algum lugar paradisíaco ou preferiram um lugar de frio? Já sinto saudades. Saudade dos sentimentos lancinantes. Saudades das sensações desconcertantes. Da minha desestrutura produtiva. Da minha insônia torturante. Dos meus pensamentos confusos. Quero de volta o caos. Quero de volta o intrigante e o intrincado. O complexo. O multifacetado. Preciso de uma avalanche. Uma avalanche de tudo aquilo que me dilacera.

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Bússolas, Dados, Manuais de Instruções, Bulas de Remédio e Afins

A felicidade é uma das coisas mais fáceis e mais difíceis de se alcançar. É um pedaço de pão, é o início, o fim, um chão, um filho, uma folga, um sonho. Podemos percorrer um caminho longo ou curto. Podemos levar a vida inteira ou só um segundo. Ela não depende de ninguém, senão de nós.
Muitas vezes por medo ou comodidade depositamos esse ônus na conta de alguém. Talvez isso seja mais fácil. Culpar alguém porque não fizemos nosso trabalho. Passamos a bola. Se for gol, o mérito é nosso; se chutarmos para fora, o erro é do outro. A dificuldade está em nos apropriarmos de nossa vida, já que o placar desse jogo dependa da nossa escalação do time.
Esse parece ser um pensamento idiota, mas nem tanto. Viver de espera, de milagre, de acontecimentos excepcionais. Pode ser uma desculpa. E, no fim, de quem será a culpa? Da vida! Da sorte! Ou melhor, do azar! Nunca vi algo ser tão culpado. Acho que talvez só exista um único ser, entidade, depende do que você acredita, que seja mais culpado: Deus. Ainda bem que Deus é grande! Só que acho que até Ele se cansa. Até ele se apequena diante de tanta expectativa depositada sobre os ombros dele. Terá Deus ombros largos? Quem sabe. Só sei que se os tiver, também não devem suportar tanto. Não seria mais simples, então, cada um fazer a sua parte? Sim. Só que para fazermos isso precisamos nos individualizar, nos conhecermos, vivenciarmos a novidade, nos permitirmos. Decidirmos, dentre tantas opções, quais mais nos agradam. Escolhermos e percebermos o que, de tudo que existe, tem mais a ver conosco e como o modo de vida que desejamos ter.

Não nos esqueçamos, porém, do tópico inicial desse texto. A tal felicidade. Que tem a felicidade a ver sorte, azar, Deus, escolhas? Tem tudo a ver! Porque, bem ou mal, todas essas coisas são alguma espécie de subterfúgio de que nos utilizamos para não a encontrarmos. Precisamos nos conhecermos bem para sabermos qual o caminho mais adequado a tormamos. Eu não disse caminho mais difícil, mais fácil, mais longo ou curto. Disse mais adequado. O modo como faremos esse caminho também é atribuição nossa. Nada de jogar isso no colo de alguém.

Pode ser que eu esteja sendo muito dura ao defender esse ponto de vista, ou quem sabe, eu esteja me utilizando do "meu" conceito de felicidade. Pode ser que você tenha o seu, e esse seja muito melhor. O fato é que não existe receita de bolo ou manual de instruções. Muito menos bula de remédio onde constam as indicações e os efeitos adversos desse ou daquele modo. É, acho que já é hora de deixarmos de lado as bússolas e os dados, para nos utilizamos de armas mais poderosas: o sonho, a persistência e o desejo.